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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Santos atrai empresa de tecnologia marinha e ambiental



Robôs submarinos e energias renováveis começam a fazer parte do cotidiano de alunos

“Não resta dúvida de que a economia do século 21 será baseada em baixas emissões de carbono. Inicialmente, o consumo mais eficiente de energia trará uma maior produtividade geral, uma vez que recursos antes gastos para pagar as contas com combustíveis ficarão disponíveis para novos investimentos. Enquanto isso, a necessidade de produção de energia de baixas emissões e infra-estrutura para substituir o modelo antigo no mundo desenvolvido e para atingir as necessidades do crescimento rápido em países em desenvolvimento, irão requerer cerca de US$ 33 trilhões de investimento até 2030, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia. Até 2015, o setor ambiental global pode valer US$ 7 trilhões e sustentar dezenas de milhões de empregos”, afirmou o ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, há apenas um ano em matéria para a revista Newsweek. 

De lá para cá, e na contramão das ações mundiais focadas na sustentabilidade, dois acidentes com plataformas de petróleo ocorreram no Golfo do México, causando danos ambientais severos e irreparáveis. A partir das descobertas do pré-sal e com toda a infra-estrutura que está sendo montada para a extração de petróleo e gás em nossa região, não é de estranhar que a população da Baixada Santista tema por episódios similares em suas águas. Mas, como vem afirmando a ex-ministra do Meio Ambiente e candidata à presidência, Marina Silva, conhecida por levantar a bandeira da preservação ambiental, “a exploração no pré-sal ainda é um mal necessário”. É incontestável que trará consigo desenvolvimento e riquezas para a região e para todo o país.  Então, como conciliar sustentabilidade e progresso quando extração e queima de combustíveis fósseis e uma melhor qualidade ambiental parecem objetivos tão antagônicos?

Para traçar caminhos paralelos e eficazes há que se apostar no desenvolvimento de novas tecnologias e na formação de cérebros pensantes e de mão-de-obra qualificada. É com essa visão que nasce uma nova empresa em Santos, assim como muitas outras que já estão se estabelecendo ou que virão – prova disso é a criação do novo Pólo Tecnológico na cidade, que atrairá empresas de tecnologia (como as da cadeia de petróleo e gás) para produzir inovações destinadas à produção de bens e serviços ou métodos úteis na geração de riqueza, desenvolvimento e inclusão social.

O NUTECMAR – Núcleo de Tecnologia Marinha e Ambiental – acaba de abrir um escritório e centro de treinamento na Ponta da Praia. Seus idealizadores e sócios são o que se pode chamar literalmente de “gente do mar”. O diretor da empresa, Eduardo Meurer, 45 anos, é gestor ambiental e especialista em aplicação das energias renováveis. Mas é também mergulhador profissional, cinegrafista submarino e comandante de embarcações. Já realizou quatro travessias oceânicas em veleiros e comandou a expedição Segredos Submersos do Atlântico, a maior viagem de documentação e reconhecimento científico realizada por uma equipe privada brasileira. A viagem, a bordo de um veleiro clássico tripulado por pesquisadores, fotógrafos, cinegrafistas e mergulhadores, foi de Santos até Tenerife, nas Ilhas Canárias, ao largo da conta noroeste africana, desbravando lugares intocados do fundo marinho, em 1993. A expedição rendeu um documentário apresentado em 15 países da América Latina e um livro contando os bastidores da empreitada.  


Em março deste ano Meurer esteve em Moscou onde se formou como piloto de Micro ROVs no Instituto Shirshov de Oceanologia, na Academia Russa de Ciências. ROV é a sigla em inglês para veículos operados remotamente. Na prática, são submarinos não-tripulados equipados com câmeras de vídeo, sensores e acessórios, pilotados por controle-remoto e usados para a observação à distância do fundo do mar e para a realização de trabalhos subaquáticos. 

“A primeira idéia que me vem à mente, como cidadão e ambientalista, é que todo aquele petróleo encontrado no pré-sal deveria ser deixado onde está, ou seja, não deveria ser retirado e queimado, contribuindo com a problemática do lançamento de carbono na atmosfera. Mas esta possibilidade já está sumariamente descartada, uma vez que governo algum seria ousado ou displicente o suficiente para descartar toda a riqueza e possibilidades de crescimento e de geração de empregos que vêm junto com a exploração do recurso. Se o fato já está consumado – e está mesmo – há que se investir na segurança ambiental de seu manejo e em alternativas que minimizem o consumo do recurso e seus impactos negativos. A robótica submarina é ferramenta fundamental para garantir o bom funcionamento das plataformas de exploração e dos dutos e componentes conectados a elas, possibilitando a realização de trabalhos em grandes profundidades – inacessíveis aos mergulhadores – e inspeções que têm a finalidade de reduzir o risco de vazamentos e conseqüentes impactos negativos ao ambiente marinho e costeiro. Trocando em miúdos, os ROVs não se prestam apenas para a realização de tarefas relativas à extração lucrativa de petróleo e gás, mas também como instrumentos tecnológicos que acabam direta ou indiretamente contribuindo com a preservação ambiental em um segmento que tem a reputação de andar em sentido oposto a ela”, explica Meurer. 

Com a experiência adquirida e com equipamento próprio, incluindo robô e simulador de missões, o NUTECMAR iniciará em 24 de setembro o primeiro curso de introdução ao ROV na cidade. O curso é pré-requisito para outros, como Piloto de Micro ROV e Piloto Avançado de Micro ROV, que serão ministrados na empresa ainda durante este ano.  

“Quando se fala em ROV, a primeira e única possibilidade que vem à cabeça das pessoas é sua aplicação nas atividades de exploração de óleo e gás e a inserção profissional neste mercado promissor. Mas o mercado relativo aos robôs subaquáticos vai muito além. O ramo de exploração de hidrocarbonetos utiliza ROVs de intervenção grandes e pesados que, podem custar milhões de dólares. Os profissionais contratados para sua operação precisam ter capacitação não só na pilotagem e manutenção dos equipamentos, como ser formados em cursos técnicos ou superiores em áreas como eletricidade, eletrônica, mecânica ou mecatrônica, além de bom domínio da língua inglesa, o que restringe muito as chances de quem almeja uma vaga na área. Nossa idéia é abrir as portas da robótica subaquática também para outras atividades, como a inspeção de cascos de navios, de cais e de pontes, de barragens, condutos e turbinas de usinas hidrelétricas, de segurança portuária, em missões de resgate subaquático, em inspeções de sistemas de tratamento e abastecimento de água, em pesquisas de biologia marinha, oceanografia e arqueologia subaquática etc. Muitas destas atividades podem ser realizadas aqui mesmo na Baixada Santista, inclusive a partir de terra firme. Enfim, as possibilidades de trabalho com o uso de ROVs são muitas. E o treinamento e a prática com equipamentos pequenos, como os Micro ROVs, são o pontapé inicial para quem quer enveredar por esse universo de pura tecnologia. Ora, muito antes de estar apto a dirigir uma carreta – o que requer treinamento específico, vale lembrar –, o motorista precisa desenvolver primeiro a habilidade em um carro de passeio. Porque com os ROVs deveria ser diferente?”, conclui Meurer.       

Energias limpas e educação

O diretor do NUTECMAR Marcelo Gentil, analista de sistemas e engenheiro de bordo de mega-iates, já navegou por lugares de causar inveja, como Caribe, Mediterrâneo, Polinésia e Nova Zelândia. Em outubro volta da Croácia, onde deixa uma embarcação para retomar os trabalhos com Eduardo e o outro sócio da empresa, o biólogo marinho Eric Comin. Gentil, capitão formado pela Royal Yachting Association (Real Associação de Iatismo da Grã-Bretanha), será o diretor responsável por educação náutica e desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas a embarcações na empresa. 
“Queremos contribuir com a melhora do ensino náutico no país oferecendo a nossos alunos recursos como simuladores de navegação, que reproduzem fielmente os comandos de um barco, e atividades práticas em nossa própria embarcação, pois os cursos de habilitação de amadores e marinheiros no Brasil infelizmente, salvo raras exceções, se limitam apenas a conhecimentos teóricos. E sabemos que para a segurança no mar a prática é fundamental”, afirma Gentil. 

“Poluição atmosférica gerada por motores de propulsão não se restringe apenas a carros, ônibus e caminhões. Barcos também poluem muito e, por não sofrerem o mesmo controle e rigor dos órgãos ambientais, às vezes até mais que os veículos terrestres – prejudicando não só a qualidade do ar como também da água. Uma de nossas metas é trabalhar no desenvolvimento de motores marítimos híbridos e elétricos e na aplicação da energia solar e eólica em embarcações, minimizando o consumo de combustível e as emissões”, completa o navegador.

O NUTECMAR também está desenvolvendo cursos de introdução e capacitação em energias renováveis, como a solar e a eólica, citadas por Gentil, assim como as energias da biomassa, maremotriz, das ondas e maremotérmica, quase todas com grandes possibilidades de aplicação na região em um futuro próximo.


“Já estamos contribuindo, em parceria com o Instituto Laje Viva, em pesquisas com invertebrados marinhos usando nosso ROV. Também atuamos ativamente na instalação de “tags” eletrônicos (sensores que enviam informações por satélite aos pesquisadores) em raias-manta na Laje de Santos. O objetivo é aprofundar o conhecimento dos hábitos e do comportamento destes enormes e fascinantes animais, ainda pouco estudados”, conta o diretor Eric Comin, que já participou de diversas pesquisas científicas ao longo da costa brasileira. 

“Partimos do princípio de que o ser humano aprende a respeitar e proteger aquilo que conhece melhor. Por isso estamos abrindo cursos introdutórios de biologia marinha, identificação de peixes, oceanografia, mergulho científico, fotografia e vídeo submarinos, entre outros, não só para estudantes universitários, como também para o público em geral”, conclui o biólogo e educador ambiental.
Ao que parece, a entrada de empresas de tecnologia marinha pode trazer para a região – sem trocadilhos – um mar de possibilidades.

Para saber mais: www.nutecmar.com.br

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