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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

China explora fronteira promissora a três mil metros de profundidade



Escrito por Redação  - TECNOLOGIA E DEFESA

Cientistas fincam a bandeira chinesa no fundo do Mar do Sul, iniciando a disputa por uma área rica em petróleo e minerais

Artigo escrito por William J. Broad, do “New York Times”, publicado no caderno de Economia do jornal “O Estado de São Paulo”, edição de 03/10/2010. Tradução de Terezinha Martino.

Quando três cientistas chineses mergulharam no fundo do Mar do Sul da China dentro de uma minúscula embarcação submergível no início do verão, o que fizeram foi muito mais do que simplesmente fincar a bandeira do país no leito escuro do mar.

Os três homens, que desceram mais de três mil metros numa embarcação do tamanho de uma caminhonete, também deixaram assinalada a intenção de Pequim de liderar a exploração de áreas remotas e inacessíveis do fundo do oceano, rico em petróleo, minerais e outros recursos que os chineses pretendem extrair. Ocorre que muitos desses recursos estão em áreas de territórios em disputa pela China e seus vizinhos.

Depois de fincarem a bandeira, o que foi feito em segredo, mas gravado em vídeo, o governo chinês rapidamente transformou a façanha tecnológica em um show de bravatas. “É uma grande conquista”, disse Liu Feng, que dirigiu a operação ao “China Daily”, jornal de língua inglesa responsável por enviar as posições do governo para o mundo exterior.

O fundo do mar está repleto de áreas minerais que, segundo especialistas, valem trilhões de dólares, além de muitos objetos valiosos no campo da inteligência: cabos submarinos que transportam informações diplomáticas, armas nucleares perdidas, submarinos naufragados e centenas de ogivas abandonadas depois de testes de mísseis.

Embora a pequena embarcação não consiga recolher todos esses tesouros, ela coloca a China numa excelente posição para ir em sua busca. “Eles não estão investindo nisso por pouca coisa”, disse Don Wash, um pioneiro dos mergulhos em águas profundas que visitou o submarino e seus fabricantes recentemente. “É um programa bastante ponderado”.

Projeto secreto
A pequena embarcação – chamada Jiaolong, nome de um mítico dragão do mar - foi mostrada publicamente no fim do mês passado depois de oito anos sendo construída secretamente. Foi projetada para descer a profundezas jamais atingidas por qualquer outra no mundo, dando à China o acesso a 99,8% do leito do oceano.

Tecnicamente, ela é uma embarcação submergível. Ela difere de um submarino pelo seu porte pequeno, a necessidade de um navio-mãe na superfície e a capacidade de ir extraordinariamente longe sob as ondas, apesar da escuridão e da pressão. Existem poucas no mundo. A Jiaolong pode chegar a sete mil metros de profundidade, derrotando o atual líder global, o Shinkai, do Japão, que pode chegar até 6,5 mil metros, superando todas as embarcações do tipo em todo o mundo, segundo seus fabricantes. Rússia, França e Estados Unidos estão muito atrasados nessa disputa pelo fundo do mar. Especialistas estadunidenses que conhecem o programa chinês dizem que é extraordinário, já que Pequim tem pouca experiência nessa área. E, por isso, a China vem avançando cautelosamente. As experiências com a Jialong começaram discretamente no ano passado e devem prosseguir até 2012, e os mergulhos serão cada vez mais profundos.

Numa entrevista, Don Wash disse que os chineses querem evitar o constrangimento de um desastre que possa colocar os mergulhadores numa cilada, ou mesmo provocar a morte deles. “Eles estão sendo cautelosos. Respeitam o que desconhecem e estão trabalhando muito para apreender”.

Mas a China já está agitando as bandeiras. Uma atitude semelhante à dos cientistas russos que, no verão de 2007, desceram pelo bloco de gelo no Polo Norte e fincaram a bandeira russa no fundo do oceano. Ao chegarem à superfície, os exploradores disseram que a sua façanha reforçava a reivindicação de Moscou a quase metade do fundo do mar do Ártico.

Segundo Wang Weizhong, vice-ministro da Ciência e Tecnologia da China, os testes com o Jiaolong constituem um “marco” da China e da exploração global. Os sucessos da embarcação, disse ele numa coletiva de imprensa em agosto, “criaram uma base sólida para a sua aplicação prática em estudos de recursos e pesquisa científica”.

Entretanto, pelo menos um importante especialista chinês questionou o que chamou de “propaganda em curso”. Weicheng Cui, professor do China Ship Scientific Research Center, disse num e-mail que, durante os testes feitos com a embarcação, foram evitadas áreas contestadas “para evitar problemas diplomáticos”.

O excesso de publicidade em torno do assunto “não é útil para nós, que desejamos levar a cabo o projeto”, disse ele.

Tecnologia

A entrada da China no obscuro mundo dos submergíveis ocorre depois de anos selecionando grandes indústrias e tecnologias em busca de rápido desenvolvimento. A China está com pressa de produzir supercomputadores e jatos jumbo. Com a expansão das suas ambições políticas e as reivindicações territoriais em mares vizinhos, ela acabou dando uma atenção especial à oceanografia, desenvolvendo uma força marítima capaz de operar em águas profundas de oceanos abertos.

N.da R: Tecnologia & Defesa tomou a liberdade de reproduzir este artigo como mais um subsídio de reflexão sobre fatos já amplamente noticiados e que se referem à expansão dos investimentos chineses pelo mundo – inclusive no Brasil – em termos de aquisições de enormes áreas onde suas empresas, ou vão atuar no agronegócio ou que sejam ricas em minerais essenciais para aquele país.

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