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domingo, 10 de outubro de 2010

Investigando o mar profundo

Por Bárbara Gouveia - Ciência Hoje
Sala foi pequena para receber interessados nas potencialidades do mar profundo (Crédito: Bárbara Gouveia)
Sala foi pequena para receber interessados nas potencialidades do mar profundo (Crédito: Bárbara Gouveia)
A luz solar escasseia, a pressão é imensa e a 200 metros abaixo da linha do mar, entre fontes hidrotermais e montes submarinos, as condições são inóspitas. No século XIX acreditava-se que não havia qualquer hipótese de vida nas profundezas dos oceanos, que compõem 70 por cento do nosso planeta.

Porém, ainda entre 1872 e 1876, a expedição à volta do mundo no navio inglês H.M.S. Challenger provou o contrário. Mais tarde, a II Guerra Mundial contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia e da acústica, que tornou possível ir mais a fundo na investigação marinha.
“Hoje o mar profundo representa uma oportunidade”, assinala Ricardo Serrão Santos, director do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, na cidade da Horta, e presidente o Instituto do Mar (IMAR). O tema foi abordado hoje no Ciência 2010.

Ricardo Serrão Santos, da Universidade dos Açores
Ricardo Serrão Santos, da Universidade dos Açores
O potencial económico e científico da região submarina é imenso. Se pensarmos que Portugal tem uma das maiores zonas económicas exclusivas da Europa e que “mais de 90 por cento da Extensão da Plataforma Continental é mar profundo” podemos perceber as vantagens que ele pode trazer ao país.

A face oculta da lua

É comum dizer-se que “sabemos mais sobre a face oculta da lua do que do fundo do mar”. Fernando Barriga, director do Museu Nacional de História Natural e investigador do Centro de Recursos Minerais, Mineralogia e Cristalografia, corrobora esta ideia.

Grande parte dos oceanos não está cartografada. Os mapas batimétricos, com informações acerca da composição do solo e subsolo, das rochas e da fauna, são ainda uma ideia submersa quando se pensa na imensa área que é necessário cobrir para levantar esses dados. Estas informações podem ser preciosas para descobrir tesouros minerais e biológicos neste meio.

Ouro em montes submarinos

Sabe-se que no fundo do oceano existe um conjunto de minerais raros, muito utilizados em alta tecnologia. São jazidas em montes submarinos muito maiores do que as existentes no meio terrestre. Cristais, ouro, platina, cobalto e cobre fazem parte da lista dos minerais rentáveis economicamente.

Nos últimos anos descobriu-se ainda o potencial dos hidratos de metano. São hidratos gelados, “gelo que arde”, que se encontram nas extremidades das placas continentais. “As reservas de combustíveis no mar profundo são o dobro da totalidade das reservas de petróleo, gás natural e carvão”, declara Fernando Barriga.

Exploração versus Ambiente

Tanto na exploração mineral como nas pescas, a ecologia e sustentabilidade acompanham a investigação científica. Conseguir um equilíbrio entre a extracção dos recursos e a conservação dos ecossistemas é uma das prioridades.

Por isso mesmo, Ricardo Serrão Santos admite que a pesca em mar profundo é um risco para as espécies: “São peixes com grande longevidade, que atingem a maturidade muito tarde e com uma baixa taxa de mortalidade”. Alguns vivem mais de 140 anos e atingem a idade adulta aos quarenta.

Contrariando ainda as crenças dos antepassados, na última década descobriu-se que até “as rochas do fundo do mar têm milhões e milhões de micróbios por centímetro cúbico”, adianta Fernando Barriga.

Fernando Barriga, do MNHN
Fernando Barriga, do MNHN
A massa de biosfera presente onde a luz não chega é comparável à que vive na terra. Sabe-se hoje haver no planeta o dobro da biomassa que se pensava existir até há pouco tempo.

Os seres que conseguem viver nestes ambientes hostis, com elevados níveis de toxicidade, podem ser úteis para percebermos outras áreas da ciência. Fernando Barriga afirma: “Quando compreendermos como resistem estes microrganismos teremos avançado em áreas como a medicina e a farmácia”.

A investigação científica

Numa época em que a investigação é internacional e interdisciplinar, os estudos do mar profundo reflectem esta tendência. Até há poucos anos, porém, por diversas condicionantes – como tecnológicas, de financiamento e até de política científica - a produção nacional era rudimentar e pouco desenvolvida nesta área. Contudo, “nos últimos dez anos o número de artigos científicos publicados em Portugal sobre os estudos do mar profundo cresceu 500 por cento”, revela o presidente do IMAR. A par da Nova Zelândia, Portugal foi o país que mais progrediu neste domínio.

Os estudos portugueses integram-se, sobretudo, com os dos outros membros da União Europeia, de onde advém grande parte do financiamento através de quadros de apoio à investigação científica. Os cientistas acreditam que Portugal está no bom caminho para desenvolver conhecimento numa área que pode vir a dar bons proveitos ao país.


Oceano em laboratório
Aos olhos de um leigo parece pouco provável, mas hoje em dia é já possível simular as condições extremas existentes no mar profundo em terra, dentro das quatro paredes de um laboratório − através dos sistemas hiperbáricos.

São equipamentos que imitam as elevadas pressões, temperaturas muito baixas mas também muito altas, ambientes químicos agressivos e que “permitem combinar estes factores e manter organismos vivos e estudá-los por longos períodos sob essas condições”, explica Alfredo Damasceno-Oliveira, investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR - UP).

O investigador adianta ainda que tem sido tentado construir um laboratório no fundo do mar e que estes sistemas permitem “trazer e ter o mar profundo no laboratório”.

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