

O inventário permite marcar uma estaca zero do que se conhece nos mares do planeta, a partir da qual se pode avaliar o impacto das actividades humanas. “Para criar esta base, o Censo da Vida Marinha explorou nove áreas e ecossistemas, descobrindo novas espécies e registando outras espécies em novos locais”, disse em comunicado Patricia Miloslavich, última autora do artigo, uma das cientistas seniores do censo e líder dos estudos regionais.
Foram consideradas várias regiões como os Estados Unidos, o Atlântico Norte, a Austrália, o Índico, o Báltico, a Austrália, América do Sul, a Antárctida, e o Japão, entre outras. A contagem total de espécies foi de 230 mil. A Austrália e o Japão tiveram ambos um número próximo de 33 mil espécies (sem contar com bactérias), a costa da China veio em terceiro lugar com mais de 22 mil. A Austrália tem 9286 espécies endémicas, mas quem ganha em proporção é a Nova Zelândia: 51 por cento das 12780 espécies identificadas só vivem naquela região.
“É normal as zonas como a Austrália ou a Antárctida [outra vencedora em organismos únicos] terem muitos endemismos, porque são continentes longínquos há muito tempo e há espécies com um padrão de movimento muito restrito”, explicou por telefone ao PÚBLICO José Paula, professor associado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
O especialista em peixes apontou que a identificação de espécies é uma das formas de olhar para a biodiversidade, que também passa pela riqueza dos ecossistemas, da diversidade populacional de cada espécie e da diversidade do próprio ADN.
Ciência global
Ciência global
O projecto do Censo da Vida Marinha teve início em 2000, juntou 2700 cientistas e já conta com 1200 novas espécies identificadas. Mas o que se conhece está muito aquém do que se pensa existir. Por cada espécie identificada há pelo menos quatro desconhecidas.
No artigo, os autores defendem que a identificação de espécies depende muito do conhecimento de especialistas nos diversos grupos de animais, vegetais e organismos celulares que povoam os oceanos. “É improvável que cada país necessite de um especialista em cada grupo taxonómico ou de grandes instalações de investigação. Por isso as colaborações entre países, que já ocorrem informalmente, são fulcrais para o desenvolvimento do conhecimento de novas espécies”, diz o artigo, que propõe que os organismos internacionais coordenem estes projetos.
José Paula concorda: “Se não houver coordenação não há capacidade para estudar o oceano de uma forma avançada, porque os custos são tão elevados que nacionalmente não é possível.” Até porque o “mar não tem fronteiras e os fenómenos só se compreendem sem barreiras políticas”.

“Ainda não se percebe até que ponto os ecossistemas vão aguentar a mudança”, avisa o biólogo.
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