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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hal Goldie: FPSOs mais brasileiros

Por ser um dos principais fornecedores de equipamentos submarinos para a indústria do petróleo, a Cameron vê grandes chances de ampliar o escopo fabril no Brasil. Em um cenário de forte incremento na contratação de embarcações para o pré-sal, a aposta maior é na montagem de plantas de processo para equipar as dezenas de FPSOs que serão demandados no desenvolvimento da nova fronteira. Em visita ao Brasil para encontros com a Petrobras, o vice-presidente mundial de Novos Negócios da empresa, Hal Goldie, realçou o desejo de investir em um canteiro offshore, bem como o de instalar um centro de pesquisa em São Paulo, além de expandir a produção local de itens como árvores de natal molhadas, manifolds e válvulas. “Quando olhamos para o mercado no longo prazo, identificamos uma clara necessidade de investimento em capacidade para atender a uma demanda que se estende além do pré-sal”, afirmou Goldie, que vê o país como um forte candidato a levar a maior parte do orçamento global da Cameron nos próximos anos.

Qual a importância do mercado brasileiro para a Cameron nesse momento?
Muito grande. A Cameron possui instalações voltadas para fabricação de equipamentos submarinos no Brasil há muito tempo, e o mercado local para esse segmento tem sido e continua sendo muito favorável. Mantidas as projeções de demanda, poderemos tirar vantagem dessa experiência. Além disso, existe um potencial crescente em outras áreas do upstream e do downstream.

O desaquecimento do mercado em outras regiões influi nessa avaliação?
De certa forma, sim. O peso do Brasil na demanda por equipamentos submarinos foi significativo em 2009, quando o resto do mundo desacelerou. E essa contribuição deve continuar crescendo. É verdade que os investimentos são de longa maturação, mas, ao contrário de outros mercados, como Mar do Norte, Mar da China, Austrália, oeste da África e Golfo do México, a projeção de demanda no Brasil é mais visível. A Petrobras tem feito uma boa divulgação da demanda futura, e isso é muito útil para que façamos os investimentos necessários ao atendimento do mercado.

O contrato para fornecer uma centena de ANMs para a Petrobras nos próximos anos vai aumentar os investimentos da Cameron no Brasil?
Sim, mas não só ele. Quando olhamos para o mercado brasileiro no longo prazo, identificamos uma clara necessidade de investimento em capacidade para atender a uma demanda que se estende além do pré-sal. O investimento em nossa planta no Brasil será feito em etapas. Inicialmente, vamos nos capacitar para atender esse contrato. Entretanto, considerando o cenário para o pré-sal, estamos trabalhando para aumentar a capacidade atual nos próximos anos a fim de acompanhar o ritmo de investimentos da Petrobras.

Que outros nichos de oportunidade a companhia enxerga?
Além dos equipamentos submarinos, existem oportunidades para sistemas de perfuração e de controle, considerando a quantidade de sondas que serão construídas no Brasil; e para sistemas de processamento em plataformas. Para esse segmento, em especial, contamos com duas empresas especializadas, a Petreco e a Natco (sob o nome de Cameron Process Systems), que já forneceram equipamentos de processo de pequeno e grande portes a 70% das plataformas que operam no momento no Brasil. Acreditamos que podemos competir com vantagem no suprimento aos novos FPSOs que serão construídos no país, inclusive com fabricação local.

O que poderia ser feito aqui?
Em alguns casos, poderemos receber componentes de fora e montá-los em um canteiro próprio, cujo projeto está em estudo. Ainda não posso dizer especificamente o que será feito aqui, pois não sabemos quantos dos novos FPSOs serão feitos em outros países. Mas torcemos para que a maior parte seja construída aqui.

Já existe algum investimento em curso para isso?
Estamos estudando cuidadosamente a possibilidade de produzir uma parte significativa desses sistemas no Brasil. Já existe capacidade local para fabricação de alguns itens, como vasos de separação, mas, dada a alta demanda que está por vir, precisamos avaliar se a base instalada no país é suficiente ou será preciso investir.

Existe algum equipamento de processo que se destaca na demanda futura?
Um FPSO tem múltiplos módulos integrados em um sistema completo de processamento. Esses módulos são fornecidos por diferentes empresas. Vamos identificar partes específicas desses módulos, como o MEG, por exemplo, e oferecer a construção deles. A ideia é fazer estruturas e tubulações localmente, importar as peças, e montar e testar no Brasil.

Na planta de Taubaté?
Não. A unidade de Taubaté é basicamente para fabricação de equipamentos submarinos, como ANMs e manifolds. No caso dos equipamentos de processo, o melhor é construí-los próximo à costa. Alguns desses equipamentos, como módulos completos, chegam a pesar mais de 1.000 t e não podem ser transportados por rodovias. Além disso, a proximidade do mar vai facilitar a logística para importar os internos dos equipamentos que fabricamos nas unidades da Cameron em Singapura, Coreia do Sul e Houston.

Quanto esses equipamentos poderão movimentar no Brasil?
A demanda no Brasil deverá ser significativa. Nas projeções do mercado brasileiro já há uma previsão de 40 FPSOs, e a Cameron quer estar em posição de construir boa parte desses equipamentos no Brasil.

É o nicho de mercado mais promissor no offshore brasileiro?
Será uma parte importante. O potencial na área de equipamentos submarinos também é grande. Outro mercado importante para a Cameron é o das válvulas, pois toda a cadeia do petróleo, desde equipamentos submarinos, passando pelo topside das plataformas e linhas de transferência, até as refinarias, demanda esse item. A planta de Jacareí (SP) da Cameron está em processo de reabertura, e nossos planos são de aumentar a disponibilidade de válvulas no mercado brasileiro.

Existe um orçamento da Cameron para investimento no Brasil nos próximos anos?
O investimento global, considerando as 11 divisões de negócio da Cameron, ainda está sendo fechado.

Qual será o peso do Brasil no orçamento global da companhia?
Vai ser um dos mais significativos. Já possuímos uma boa capacidade instalada para o mercado de águas profundas em regiões como EUA, Reino Unido, Austrália e África Ocidental. Em outros países, como Romênia e Malásia, estamos concluindo investimentos. No Brasil, porém, ainda há muito a fazer.

Onde os recursos serão aplicados?
A maior parte do investimento será na nova base para fabricação de equipamentos de processo, que deve consumir metade dos recursos. Também vamos investir na expansão das fábricas em São Paulo, incluindo as áreas de suporte técnico e desenvolvimento de componentes locais. Outro investimento importante será na instalação de um centro de pesquisa em São Paulo.

Qual será o foco das pesquisas?
Estamos definindo algumas tecnologias com a Petrobras, cobrindo todas as nossas áreas de negócio. Em princípio, vamos focar em sistemas de separação submarina e processamento em plataformas.

Serão tecnologias voltadas para o pré-sal?
Em geral, sim. Vários requisitos para a operação no pré-sal estão no escopo dessas tecnologias.

Onde será o centro?
Estamos conversando com três universidades para avaliar o potencial de cooperação dessas instituições nos projetos propostos.

A empresa tem uma meta para aumentar o conteúdo local?
Fabricamos equipamentos submarinos no Brasil há muitos anos. Nesse período já aumentamos significativamente esse percentual, que está na casa dos 70%. Acredito que podemos alcançar 80% nesse segmento, incorporando outros itens fabricados no país. Mais do que isso é inviável, pela limitação na oferta de forjados de grande porte no Brasil.

Onde é possível aumentar o conteúdo local?
A maioria dos componentes pode ser suprida localmente, como o serviço de montagem das válvulas, que vamos fazer em Jacareí, por exemplo.

Qual a sua avaliação geral da infraestrutura do país para a indústria de petróleo e gás?
A infraestrutura é muito boa e extremamente madura. Fornecemos itens com diversos componentes para equipamentos submarinos há mais de 20 anos. A oferta de mão de obra também é excelente e supre bem nossos quadros técnicos. Esse conjunto permite atender o mercado local com padrões acima da média para países em desenvolvimento.

Como o acidente no Golfo do México afetou os projetos de engenharia da Cameron?
Sem dúvida, estamos juntos no esforço da indústria para entender o que aconteceu. Enquanto não há conclusões, estamos apoiando a BP e a Transocean no esforço para gerenciar o problema.

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